sábado, fevereiro 18, 2012

Fernando Pessoa na BD... e não só (XVI)









Ónima - Heterónimos Pessoanos é o título da edição em livro - no formato invulgar de 34x14cm - de um projecto levado a efeito por alunos da turma do 2º ano de Comunicação da Escola Profissional Profitecla do Porto, sob orientação do Arquitecto Pedro Castro.

Nesta obra colectiva - realizada em contexto de trabalho pedagógico da Profitecla -, surge um artigo dedicado à BD intitulado Fernando Pessoa na Banda Desenhada, da autoria deste bloguista, convidado por Pedro Castro que, além de arquitecto e professor naquela escola, também tem feito banda desenhada esporadicamente.

Esse artigo, que ocupa três páginas da invulgar edição, está reproduzido no topo do "post". E, embora com lacunas respeitantes a obras surgidas posteriormente, uma brasileira e outra espanhola, faz um levantamento de bandas desenhadas surgidas em álbuns, revistas, fanzines e também na blogosfera, debruçadas sobre o poeta Fernando Pessoa. 

Os visitantes habituais da blogosfera sabem como fazer para os textos ficarem bem legíveis. Mas para quem tem pouca prática, aqui fica uma ajuda: um clique inicial sobre o texto faz a primeira ampliação; a seguir o cursor toma o aspecto de uma lente, e volta-se a clicar. O texto fica bem legível.

Mas, para facilitar a leitura, reescrevo o texto mais abaixo.

Ónyma - Heterónimos Pessoanos (*)
Autores: Alunos de Comunicação/Grupo de FCT
Orientação gráfica: Pedro Castro
Livro brochado, 80 páginas em papel couché de elevada gramagem, com impressão de imagens em quadricromia
Edição: Edições Profitecla (2007/2008)
Porto

(*) Heterónimo provém do grego, na junção das palavras Heteros, que significa diferente, e Ónymo, cujo significado é nome

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Embora este livro tenha sido editado em 2008, só agora decidi divulgá-lo aqui no blogue, considerando o facto de estar patente ao público uma excepcional exposição intitulada Fernando Pessoa: Plural como o Universo, que foi organizada pelo Museu de Língua Portuguesa em São Paulo, Brasil, tendo vindo para Portugal para ser exposta na Fundação Calouste Gulbenkian, a partir do dia 9 de Fevereiro, e onde se manterá até 30 de Abril.
Note-se que a exposição brasileira foi valorizada com peças do espólio do poeta que estavam dentro duma muito falada "arca de Pessoa".  
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Pedro Castro, responsável pelo projecto e pela edição, acrescentou ao nome deste bloguista a indicação "Presidente do Clube Português de Banda Desenhada".
Acontece que Pedro Castro conheceu-me nos anos 1980, quando eu era membro da Direcção daquela colectividade, de que fui vice-presidente várias vezes, alternando com Carlos Gonçalves. Por mútuo consenso, ambos decidimos nunca concorrer ao lugar de presidente, deixando esse cargo para desenhadores, como foi o caso de Eugénio Roque, José Garcês e Pedro Massano.
Obviamente, Pedro Castro desconhecia esses pormenores, e "elegeu-me" como presidente do CPBD para me identificar.

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Os anteriores artigos dedicados a este tema podem ser vistos clicando no item Fernando Pessoa na Banda Desenhada, visível no rodapé.
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Fernando Pessoa na Banda Desenhada

Biografar figuras históricas, transformar em figuração narrativa factos da História de Portugal, ou adaptar romances dos nossos maiores romancista, tem sido recorrente na Banda Desenhada Portuguesa.

Outro tanto não acontece no que concerne a poetas ou à própria Poesia, excepção feita a Luís de Camões e também aos Lusíadas, autor e obra bastante divulgados em publicações várias - álbuns e revistas - tanto em Portugal como no Brasil.

Fernando Pessoa, depreende-se da premissa, fica em plano secundário na comparação, pese embora o seu enorme prestígio em ambos os países. Apesar disso, tendo em conta a efeméride dos cento e vinte anos após a data do nascimento do poeta em Lisboa, a 13 de Junho de 1888, faz todo o sentido tentar historiar quantas e quais as obras desta forma de arte em que ele, ou os seus heterónimos, e respectivas poesias, tenham servido de tema.

Em primeiro lugar, surge uma curtíssima referência em duas vinhetas apenas, no episódio caricatural "Manifesto Anti-Mantas", desenhado a preto e branco por Jorge Mateus, sob argumento de Carlos Martins, na revista Selecções BD - I Série - nº3 - Julho 1988, cem anos (e um mês) após o nascimento de Pessoa.
Apesar do centenário ser seu, o principal protagonista desta bd é, afinal, o seu amigo Almada Negreiros (e como figurante, um tal Ritinha, o comum amigo Santa-Rita Pintor) aparecendo o poeta como figura secundária e de forma insólita. Tal acontece quando, a certa altura, surge a imagem de um locutor negro da RTP (na BD, tudo é possível, e no que se refere a anacronismos humorísticos, são frequentes) a dizer, entre outras coisas, "já vejo ali os famosos Pessoas". E, de facto, sentados à mesa do café, com um exemplar do nº2 da revista Orpheu (em que Pessoa colaborou e de cuja geração fez parte) em cima do tampo, vêem-se dois esqueletos, ambos com os infalíveis pormenores identificativos da figura do poeta, chapéu, óculos, bigode e lacinho, que pedem ao locutor "Posso recitar um poema, posso?".

Admitindo a possibilidade de erro, estabelece-se esta aparição da figura de Fernando Pessoa como sendo a primeira na BD portuguesa. Com bem maior espessura ficcional surge uma outra, três anos depois, onde ele se apresenta como personagem principal, "Tião e Maria: Pessoa em Apuros", publicada igualmente na primeira série da revista Selecções BD - nº40, Agosto de 1991. Criada totalmente por José Abrantes, a trama, de claro sentido crítico, desenvolve-se em quatro pranchas, a preto e branco, num "gag" onde Fernando Pessoa tenta fugir por todos os meios a uma praga de pessoanos que querem saber tudo a seu respeito, para sobre ele escreverem, e à conta dele ganharem fama e dinheiro, e por isso o perseguem obsessivamente para onde quer que vá. De referir que a capa, a cores, desse número da revista, serve de apresentação ao episódio, com a figura do poeta em destaque.

Desopilante em absoluto é a obra que se segue cronologicamente, publicada em Outubro de 2000 no nº1 da revista brasileira Chiclete com Banana, mas em versão editada em Portugal. Da autoria de Laerte, o episódio tem por antetítulo "Piratas do Tietê", o mesmo da série, seguido de "O Poeta" como título, completado pelo subtítulo "Com a participação especial de Fernando (em) Pessoa".
São doze pranchas em que aparece alguém, de chapéu, óculos e bigode, a falar sozinho: "Eu não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada". Dominado pelo espírito do heterónimo Álvaro de Campos em fase de profunda depressão, resolve suicidar-se, lançando-se de uma ponte, mas caindo dentro de uma canoa que o leva até próximo de um barco de piratas (do Tietê, claro) que o ouvem declamar, "chamam por mim as águas, chamam por mim os mares" e sobre ele disparam, afundando-lhe a canoa. Insolitamente, o poeta emerge, dentro dum escafandro surgido sabe-se lá donde (da caneta do artista brasileiro, por hipótese...), e continuamente a dizer os versos de qualquer um dos seus heterónimos.
Volta a ser alvo de tentativas de destruição, às quais sempre sobrevive incólume, sem sequer se dar conta dos ataques, absorto na sua poesia, enquanto os piratas desesperam, com o barco quase a afundar-se, e o furibundo e frustrado capitão a berrar no fim "Malditos poetas!!".

Em 2002, sob chancela das Íman Edições, surge o livro Heróis da Literatura Portuguesa, afinal escritores, ficcionistas e poetas, todos biografados pela banda desenhada. Na apresentação da extensa peça de dezoito pranchas, a preto e branco, dedicada a Fernando Pessoa, lê-se: "No Equinócio do Outono de 1930 vamos entrevê-lo na Quinta da Regaleira, numa inconfessável descida aos túneis onde cresce a árvore dos Sefirotes, com saída para o mar, na Boca do Inferno. Por lá passam também o Mago Crowley (...)". É sobre este acontecimento que Pedro Pestana Soares tece o argumento do episódio eivado de esoterismo, desenhado com garra e imaginação por João Chambel.

Em Cádiz, Espanha, edita-se o fanzine Radio Ethiopia. No seu nº 14, com data de Outono-Inverno 2005, foi reproduzida a banda desenhada "Pessoa Revisited", sob a assinatura de Rafa Infantes, no desenho a preto e branco, e no texto que complementa o excerto dum poema de Álvaro de Campos, escrito em português. A apresentação aparece na vinheta inicial: "El joven Campos ya no siente ningún apego a este mundo. Él podria hablaros de las conquistas de la Ciencia moderna, del arte y la metafísica. Podria, si acaso os interesara una solo de sus palabras. Pero las palabras que sus labios pronuncian poco tienen que ver con vosotros".
"Não sou nada". Os versos do poema irão aparecendo nas vinhetas seguintes. "Nunca serei nada". "Não posso querer ser nada". "À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". E na última vinheta vê-se o poeta deitar fora o caderno onde estivera a escrever, sob a legenda: "Já disse que não quero nada".

Os novos tempos trouxeram diferentes tecnologias. Em vez de impressas em papel, há já muitas bandas desenhadas que começaram, de raiz, no espaço virtual da internet. E Fernando Pessoa, com o fascínio da sua poesia e da sua personalidade, não podia deixar de inspirar algum internauta autor de BD. Miguel Moreira tinha imaginado há muitos anos um projecto desse género, e em Abril de 2004 fez os primeiros esboços. Mas só em 29 de Outubro de 2007 surge no endereço http://lmigueldsm.blogspot.com o blogue "As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal" a mostrar as vinhetas iniciais da homónima banda desenhada. Colorida por Catarina Verdier, a figura bem reconhecível do poeta aparece em "post" de 13 de Junho de 2008, cento e vinte anos após o seu nascimento, num episódio em que, numa das vinhetas, ele está na cama, de tronco nu, mas de óculos e chapéu, ao lado de alguém - de que só se vê um braço - e que num balão de fala, emite a onomatopeia trocista "Blá blá blá". Assim se começa a transformar em banda desenhada o poema "Gostava de gostar de gostar", de Álvaro de Campos, uma entre numerosas meias pranchas que vão compondo sequências com intervalos de dias entre elas, que quase fazem subentender a tradicional frase das antigas histórias aos quadradinhos, "continua no próximo número".

Algo diferente na sua origem, mas com resultados finais semelhantes, é como se pode classificar a banda desenhada "A Anunciação". Concebida por André Oliveira, que após escrever o argumento (um sonho de Fernando Pessoa em que o poeta sente um chamamento divino), teve a ideia de pedir a vários colaboradores - Nuno Frias, Ricardo Reis, Miguel Cabral, João Vasco Leal, para desenharem, e Cristiano Baptista para colorir - que concretizassem o respectivo guião em cinco pranchas, com a finalidade de que a bedê fosse reproduzida no BDJornal. Porém, estando este com a publicação suspensa, isso possibilitou, após acordo com o seu editor e respectivos autores, que editasse no meu blogue "Divulgando Banda Desenhada", no endereço http://divulgandobd.blogspot.com aquela banda desenhada original e inédita a qual, assim, diferentemente, teve a sua estreia na blogosfera.

Continuando a navegar na internet, depara-se-nos o título "Descobrir Portugal em Língua Gestual Portuguesa (LGP), com o subtítulo "A História Animada/Desenhada Descobrir Portugal em Língua Gestual Portuguesa (LGP) para Crianças Surdas, criada, escrita, ilustrada, desenhada e realizada pelo Prof. Francisco Goulão (surdo/deaf) - Portugal".
Não há qualquer data que indique quando se deu o início deste site localizável no endereço http://profsurdogoulao9.no.sapo.pt todo feito à base de imagens desenhadas, apresentando alguma sequencialidade, com os diálogos transmitidos pela linguagem gestual. A intenção é a de falar de Portugal por aquela forma, dando claramente ênfase às cidades do Porto e de Lisboa, visitadas de forma quase exaustiva. No que concerne à capital, uma das imagens que a representam é exactamente a figura do lisboeta Fernando Pessoa, através do famoso retrato que dele fez o seu amigo Almada Negreiros.

Na revista Cais, nº 131 - Junho 2008, aparecem umas tantas bandas desenhadas feitas por alunos e alunas do AR.CO - Centro de Arte e Comunicação Visual. Uma dessas bedês, emduas pranchas matizadas a sépia, é assinada por Ana Filomena Pacheco, e tem o título de "O Banqueiro Anarquista". Trata-se do conto escrito por Fernando Pessoa em Janeiro de 1922, publicado no nº1 da revista Contemporânea em Maio desse ano, cujos invulgares diálogos entre o banqueiro, que assume uma atitude política nada consentânea com a função que exerce, e um seu amigo, a novel autora parcialmente aproveitou,para realizar singular obra de figuração sequencial.

Por fim, é sabido, disse-o Fernando Pessoa, "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", verso pertencente ao poema "O Infante", do "Mar Português", tantas vezes usado como lema ou justificação, serviu de mote para a prancha inicial da bd "FP vs Bubas". Este antagonista do poeta, de nome tão estranho, é o anti-herói de estimação de Derradé (aliás, Dário Rui Duarte), que continua o episódio inicial e o conclui, numa segunda prancha, com o próprio Bubas a recitar "Ai que prazer/Ter um livro para ler e não o fazer", na presença do tal FP.
Inédita até agora, esta banda desenhada destinava-se ao nº 3 da revista de BD HL (Herpes Labial), cuja edição esteve prevista para Outubro de 2006. Com essa data protelada sine die, surgiu a hipótese de ser editada no meu blogue já anteriormente citado, o que acaba de acontecer, constituindo assim a mais recente homenagem a Fernando Pessoa pela banda desenhada,outra vez em suporte electrónico.
                                                                                                   Geraldes Lino
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Os visitantes que estiverem interessados em ver as 15 postagens anteriores poderão fazê-lo clicando sobre o item Fernando Pessoa na Banda Desenhada, visível no rodapé

2 comentários:

Daniel Santana disse...

muito bom! projeto gráfico muito bonito.

tenho um blog de ilustrações

http://daniel20santana.blogspot.com/

Tiago Almeida disse...

Tenho orgulho em ter sido um dos criadores do Onyma juntamente com os restantes membros do grupo ...