Fernando Pessoa é uma das grandes referências na poesia de todos os tempos e quadrantes, ombreando com Luís de Camões no prestígio em Portugal e em muitos outros países, nomeadamente Brasil, Espanha, França e Reino Unido.
Não é fácil transpor poesia para a banda desenhada, mas já vários autores o têm feito, entre portugueses e estrangeiros. A acrescentar a estes últimos, surge a espanhola Laura Pérez Vernetti, cuja novela gráfica, Pessoa & CIA, já está editada em Portugal, tendo sido apresentada em Lisboa em duas sessões, a primeira na Livraria Leya na Buchholz, a segunda na própria Casa Fernando Pessoa, ainda em data recente, 18 de Outubro. Nesta última até teve direito a exposição de pranchas, complementada por uma mesa redonda em que participaram António Jorge Gonçalves, Filipe Abranches e Golghona Anghel, sob moderação de Sara Figueiredo Costa.
Com o apoio do Instituto Camões - Instituto da Cooperação e da Língua - Portugal, acontece - vai acontecer - no Reial Cercle Artistic de Barcelona (C/ Arcs, 5, junto à Catedral) mais uma exposição de várias das melhores pranchas da obra (assim me diz a autora) já na próxima quinta-feira, dia 22 de Novembro, às 19h30.
Para Fernando Pessoa será mais uma merecida homenagem, sendo justo destacar o interesse da catalã Pérez Vernetti, autora de BD e admiradora do poeta português, abarcando nessa admiração alguns dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro.
Post Scriptum - Os meus agradecimentos a Laura Vernetti, pela amabilidade de me ter dado conhecimento deste evento.
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LAURA PÉREZ VERNETTI
Síntese biográfica
Laura Pérez Vernetti (Barcelona, 1958)
Após licenciar-se em Belas Artes, em Pintura, trabalhou durante dez anos (1981-1991) na revista El Vibora, designadamente nas bandas desenhadas "El Toro Blanco" (1989) com o argumentista Joseph Marie Lo Duca, e "La Trampa" (1990).
Entre as suas obras em BD destacam-se "Las Habitaciones Desmanteladas", (Ediciones De Ponent, 1999); "Macande" (Ikusager, 2000); "Nous Sommes Les Maures" (Éditions Amok, 1998), "11 M, Once Miradas" (2005) e "Sará Servito" (Edicions De Ponent), com Felipe Hernández Cava; "Amores Locos" (Edicions De Ponent, 2005) e "El Brillo Del Gato Negro" (Edicions De Ponent, 2008), com o argumentista Antonio Altarriba, e "Las Mil y Una Noches" (Edicions De Ponent, 2002), de novo com Joseph Marie LoDuca.
É uma das autoras/desenhadoras mais populares e premiadas na Europa.
(Tradução livre de texto englobado no "site" da RTVE, em espaço da responsabilidade de Jesús Jimenez, jornalista da RTVE, especializado em Cultura e, sobretudo, em Banda Desenhada)
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Imagens que ilustram o "post":
1. Cartaz da exposição em Barcelona
2. Capa do álbum em edição portuguesa da ASA
3. Capa do álbum da editora catalã Luces de Gálibo
4. Foto recente da autora ao lado da sua ilustração para a capa do livro
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Os visitantes deste blogue que, por mera curiosidade, queiram ver os restantes trinta "posts" do presente tema, poderão fazê-lo clicando no item Exposições BD avulsas visível no rodapé
21 comentários:
a autora já foi publicada em Portugal na revista Quadrado e Nós somos os mouros (assírio & alvim, 2003).
Caro Geraldes Lino,
Já agora, gostava de ler uma palavra de verdadeira apreciação deste livro. Não tendo tempo para a argumentação do costume, este projecto é pavoroso em todos os níveis, quer em termos da compreensão da poesia de Pessoa quer nas formas visuais que utiliza, absolutamente medíocres. É pena que o facto de ser veiculado por uma chancela editorial com algum peso no "mercado" dê aspecto de imediato valor artístico. Entretanto, nega-se a edição a um Diniz Conefrey. Enfim, é o panorama que temos...
Estas últimas apostas da Asa têm sido paupérrimas. Esta em particular prima pela feiúra.
Pedro Moura
Pedro Moura
Tenho grande admiração pelo seu labor como crítico de BD (e não só), por isso não me passa pela cabeça a pretensão de ir concorrer numa área da blogosfera tão bem servida como é a da crítica de BD, onde pontuam competentes críticos, designadamente: você mesmo, além de Pedro Cleto, João Ramalho Santos, João Miguel Lameiras, Sara Figueiredo Costa, Nuno Amado, Domingos Isabelinho, André Azevedo...
Destes todos (andei agora mesmo a pesquisar) só em "A Leituras do Pedro" é que encontrei um texto, algo anódino, deste crítico que costuma aprofundar as suas análises.
Não compreendo tão generalizada omissão...
Mas utilizando a frase popular, "Cada macaco no seu galho", e já que você me chamou a atenção para o assunto, endosso-lhe a tarefa, aliás já esboçada (ou até mesmo finalizada) neste seu comentário:
"(...)este projecto é pavoroso em todos os níveis, quer em termos de compreensão da poesia de Pessoa, quer nas formas visuais que utiliza, absolutamente medíocres.
"É pena que o facto de ser veiculado por uma chancela editorial com algum peso no "mercado" dê aspecto de imediato valor artístico.(...)"
Em francês, há a frase "cherchez la femme", quando se quer indicar a provável localização do motivo. Parafraseando-a, eu diria: "cherchez la maison d'édition"
Caro MMMNNNRRRG
GRRRR... Só limitações minhas... Na revista "Quadrado" não me recordava; no álbum "Nós Somos os Mouros", tinha a ideia que sim, e queria confirmar, mas, "hélas", não encontrei a peça.
Mas basta que sejas tu a dizer!
Caro Geraldes Lino
Alguns críticos de BD, em Portugal, parece que têm o dom superlativo de classificarem, do seu Olimpo, as "paupérrimas" obras que têm sido publicadas em Portugal por autores portugueses (ou por autores estrangeiros sobre assuntos caseiros) e em editoras nacionais.
É o caso que lemos aqui, de Pedro Moura (que eu não conheço e ele também nunca me viu mais gordo), e que, de vez em quando, passo pelo seu blog para "admirar" as "riquíssimas" escolhas que este potentado da crítica tem feito.
Ao ler as suas extensas críticas - por vezes a obras de pretensa BD que ele desencanta nos “quintos” do estrangeiro, que de facto não o são (BD não é aquilo), por serem ilustrações avulsas e descoordenadas -, devidamente sustentadas por vocábulos com o ouropel do que há de mais caro nos dicionários, estranha-se que delapide como "projecto pavoroso em todos os níveis" uma obra que faz apelo a uma figura relevante da cultura nacional. Para um escritor que exorbita de linguagem cuidada e com tanta quantidade de cequins como se a sua prosa fosse polvilhada por átomos de luz, exercer com termos tão pouco lisonjeiros a obra de um autor – como foi agora o caso – deixa-me cair a admiração académica que seria suposto reter deste autor.
Não sou advogado da autora do livro ora vilipendiado no seu comentário nem sofro com as dores alheias, mas pressinto que, na obscuridade do que ele diz em relação à editora apontada, alguma bordoada me tenha assentado por tabela. Se for o caso, Como sou torcido por natureza e couraçado por anos de lide, passo e ando.
Julgo eu que a BD, cotejada deste modo, comparando autores que deviam ser publicados em vez de outros, não consegue impor-se pela coerência crítica, objectiva e determinada, para cair nesta apagada, vulgar e vil tristeza do "bota-abaixo" por quem seria suposto, com rigor e desassombro, encontrar palavras menos acintosas para fazer crítica.
Já senti na pele este fel com outro comentador da mesma galáxia de PM; tenho observado o desequilíbrio nos comentários quando se encontram julgamentos comparativos sobre autores nacionais ou estrangeiros; continuo a pressentir que se prefere criar uma bolha de eleitos, que merecem ser publicados e minar aqueles que nunca o deviam ser, pela sina de excluídos.
Julgo que Pedro Moura apenas lê BD e não vê BD - esta é uma arte de simbioses - aberta, livre e sem preconceitos de elites que se arrogam como os sabedores e os escolhedores, os únicos que têm o poder de fazer cair na pescoceira dos criticados a sua espada de Dâmocles; presumo que Pedro Moura, por qualquer razão caprichosa, queira elevar a BD a um estatuto que a solte da mácula e pequenez de leitura de crianças e iliteratos; receio que, desta forma, com opiniões dificilmente tidas por imparciais e com tal atmosfera de pedantismo, qualquer dia estejamos a clamar no deserto, sem autores nem leitores.
Estou farto de ver esta treta, desta forma e perdi a paciência – como diz o povo, paciência e sebo de grilo é bom para aquilo. Estou irritado com isto. Há anos que leio, desenho e colecciono e nunca me senti tão defraudado; leio blogs e comentários, as pseudo recensões, elogios e vitupérios, estes bons, aqueles maus, os demais nem uma coisa nem outra; reparo em algumas observações pretensamente críticas na blogosfera, elaboradas com a sapiência e a magnificência, pelos intelectuais da praça e apetece-me mandar-lhes a resposta precisamente igual à do general Cambronne quando os ingleses lhe pediram a rendição.
Julgarás – e bem – que me dirijo a Pedro Moura de forma indirecta (podia fazê-lo no seu blog), mas pretendo-te como interlocutor, uma vez que és anfitrião no teu blog e eu sou visita.
A tentação combinada do que tenho lido ultimamente foi demasiado para mim. Desculpa trazer esta guerra para a tua “casa”, ainda para mais com um arrazoado desta extensão, mas estava a aguardar para dizer isto, mal apanhasse um pretexto. E ei-lo chegado…
Carpe Diem
Caro Lino e Santos Costa,
Perdoem-me pela resposta "conjunta". Penso que fui claro dizendo que assumia o não poder entrar numa argumentação mais sustentada, logo, que o meu comentário não seria mais do que uma bordoada em relação a este livro, que penso ser pobre a vários níveis. Se o Santos Costa lê nessas linhas algum tipo de "potentado" ou "cátedra", as minhas desculpas, pois acima de tudo penso que um trabalho de crítica deve de facto ser feito com elementos de argumentação, e não "bocas" (como, repito, acabo por simplesmente fazer no meu comentário).
Quanto ás restantes considerações do Santos Costa, não tenho muito a dizer. Afinal, também acaba por utilizar uma forma categórica de dizer que muitas das coisas de que falo "não são banda desenhada". Presumo, portanto, que exista nesta arte uma delimitação formal qualquer que torne algumas coisas "bd" e outras "não-bd", como não ocorre em nenhum outro ramo artístico.
Admito - como sempre o fiz - que o meu discurso não é o mais simples, nem sequer aquele que encontrará um grande número de leitores. Mas afinal de contas, o tipo de discurso que pretendo construir não se coaduna com abordagens superficiais ou simplórias, e sim com a sua integração em discursos mais latos afectos à cultura contemporânea. É uma pena que isso seja visto por alguns sectores, inclusive pelos Santos Costa, como diz, enquanto "elitismo", e não enquanto uma exigência necessária. Não me quero pautar pela bitola mais baixa. Por isso, tenho seguido um princípio que tento respeitar as mais das vezes que é o seguinte: se não gosto do livro, prefiro não falar sobre ele. Apenas me levo a críticas mais virulentas se sou confrontado com encómios rasgados a obras problemáticas ou medíocres, precisamente sem argumentação sustentável ou porque se pautam por alianças editoriais, e sinto a necessidade de criar um discurso contrário (já sucedeu e sucederá em breve). Mas não o aço com a ideia de "falar de cátedra". Bem pelo contrário, desejaria que se entabulasse uma verdadeira discussão, e convidá-lo-ia, quando o desejar, a discutir - como já o fez no passado - no meu próprio espaço. É mais do que bem-vindo.
Dito isto, parece-me que não há verdadeiramente desejo em entabular essa discussão, pois pelo teor das suas palavras, em que "aguardava por um pretexto" e fala de "guerra", temo que não será esse o caminho desejado. Ainda assim, seria interessante discuti-lo.
Voltando a este livro, porém, não pode ser nenhum argumento sério o dizer que por citar ou trabalhar a figura de Fernando Pessoa que se torne imediatamente significativo do ponto de vista da banda desenhada enquanto arte - e como muito bem diz, visual, mas também narrativa, compositiva, e até mesmo conceptual e literária. Ora, serão esses níveis cumpridos de uma maneira verdadeiramente interessante nesta obra?
Quanto ao que disse "en passant" em relação à editora, terei todo o gosto em desenvolver essa ideia noutra ocasião.
Obrigado,
Pedro Moura
O Pedro Moura invocou na resposta a minha participação no seu blog (em comentários, naturalmente) mas só me lembro de ali ter entrado, como Anónimo, em 14 de Março deste ano, na caixa de “100 Scenes. Tim Gaze (asemic editions)”. Comentei, o Pedro respondeu; voltei a comentar, nova resposta sua.
Facilmente todos nós poderemos aceder a esta intervenção na consulta respectiva do LerBD. No entanto, por achar ainda pertinente, reproduzo a minha primeira entrada e a segunda, a propósito do que considero BD. Antes, porém, lembro que na postagem sobre “The Art of Pho”, de Julian Hanshaw, o Pedro Moura escreveu a determinado passo – “nem sempre tudo o que é banda desenhada tem de ser banda desenhada” (!).
Esta observação não é muito impressiva e parece-me meramente filosófica, matéria onde as minhas meninges derrapam por ser uma ocupação fatigante. Afigura-se que, analisando (na minha maneira de ver e de ler) a obra em apreço e onde comentei, do Tim Gaze, que ali reproduziu em três ou quatro pranchas, nada há lá de banda desenhada no sentido que damos hoje à sequência de imagens narrativas; há, todavia, ilustração (de que eu não gosto, acrescento), tinta de impressão e papel que, para mim, tem o interesse literário e ficcional de um livro de estatísticas.
Quero dizer que a minha referência à guerra ocorreu em sentido figurado e resulta da forma como “criticou” a obra da autora do Pessoa & Cia, carimbando-a como “pavorosa” (de pavor? De terror? De arrepiar?) e as opções “paupérrimas” da editora referida. No entanto – e gostos não se discutem – trouxe até à sua página de 18 de Novembro, uma “Abstract City”, dizendo daquilo que é “uma composição de elegância”!
Eu não critico os críticos porque não tenho arcaboiço para ser um nem crítico de outro e também não me competir estar no observatório dessa missão. Digo o que tenho a dizer, gosto, não gosto – respeito o mesmo no Próximo – mas em minha casa ou no círculo mais apertado dos amigos sabem qual é a força que trago no peito: não me ponho de mal comigo para estar bem com os outros.
Dito isto, passo a transcrever o que então comentei no seu blog – isto em caixas sucessivas porque o blogger do Lino não permite mais de 4906 caracteres (para poupar energia).
Segue…
Continuação…
Primeiro comentário:
««Permita-me, Pedro Moura, comentar como "Anónimo", utilizando todo o respeito como se subscrevesse a identificação.
A banda desenhada (comics, fumetti, manga, tebeos,hq,etc.)é uma forma de arte, indiscutivelmente; é, sobretudo, uma forma de simbiose de artes - a escrita e a desenhada; será, porventura, a arte que pode dispensar a escrita para se ler como desenho. Isto é, no meu entender, banda desenhada (uma denominação traduzida do meio francófono), porquanto banda é trilho, tira, faixa, tal qual a alegada matriz desta arte em miniaturas dos séc.s XIII e XIV.
Para mim, tudo o que fuja ao padrão da vinheta, da tira e da sequência narrativa, não é banda desenhada - chamemos-lhe outro nome.
Sabemos que o desenho precedeu a escrita, pois também sabemos que a escrita é a variante do desenho. Há, pois, uma separação entre ilustração pura e simples, liberdade gráfica independentemente do género ou da escola artística, e o conjunto sequencial de ilustrações que pretende narrar uma história. Falo, evidentemente, da sequência "fílmica" da acção, na envolvência do espaço e do tempo da narrativa, como no cinema, com todos os seus jogos de enquadramentos, planos, cortes e saltos. Mas o cinema não é anterior à banda desenhada, porque a banda desenhada era cinema antes do cinema.
Com todo o arrazoado, quero dizer-lhe que, para mim, autor de textos e autor de desenhos (curiosamente mais forte numa das artes que na outra) muito do que tem trazido - e bem - a este seu excelente blogue, não é banda desenhada»»
Segundo comentário:
««A minha interpretação corresponde a uma visão mais hermética que envolve a temática da banda desenhada; porventura, mais espartilhada no conceito de tira,vinheta e prancha. Em suma, se calha, sou uma espécie de conservador, de visão pouco ou nada futurista, talvez até daqueles que, tornando a bd minimalista, a coloque à altura da literatura infantil. Não quero esse papel!
Alargando-se o conceito - incluindo, como exemplo dado, Gorey, que é um mestre do traço, em Amerika de Kafka, por exemplo - consegue-se extravasar essa designação de "banda desenhada" que, só por si, fecha o conceito à habitual criação do desenho-narração.
Talvez o termo "indiscutivelmente" surja numa linguagem autocrática e, por isso, abusivo nessa relatividade (ainda laivo de conservadorismo referido retro) mas a "simbiose" mantenho, pois ela existe em tudo o que é arte, porque na singeleza de um desenho, mesmo sem legenda, existe no criador e no leitor, uma leitura escrita, que não está impressa nem expressa.
Ler bd é um repositório e um laboratório, permita-me este rótulo: como tal, tem justamente o direito (e, talvez, o dever) de experimentar em todos os cadinhos, em todas as pipetas, todos os géneros que se circunscrevam ao meu restrito conceito de banda desenhada, mas que evoluíram - como toda a arte evolui - para novas formas e novas fórmulas da narrativa figurativa.
Perdoe-me manter-me, por agora, anónimo; podia tê-lo feito com um nick abstruso, que iria dar ao mesmo. Mas creia-me sempre um leitor deste espaço, porquanto como anónimo me é mais propício o elogio e menos o vitupério.»»
Finalmente…
Já tem um Anónimo identificado, Pedro Moura, com a promessa que lá entrarei com o mesmo “santo e senha” que entro agora neste; logo, sem estar embuçado e sem anonimato. Bem… Não me creia em comentários de contraditório a acenar a cabeça aprovativamente, curvando-me como um cabo de guarda-chuva e dizendo o que se espera que se diga em tais subserviências, como se fosse sincero.
É tudo. Acontecem todos os dias opiniões contrárias e ninguém se sente pior por causa disso. E, no meu caso pessoal, estou-me “nas tintas” para o caso de as minhas obras não “beneficiarem” das referências dos julgados na matéria. O meu curriculum encontra-se devidamente preenchido e suponho que, para o “peditório” da BD já dei esmola cabonde, quanto mais não seja arrostando a tarefa semanal de ter desenhado uma página inteira para um semanário, com sucessivos títulos de BD. Este esforço equivalia a uma tiragem por estória (era em média uma estória de 12 em 12 semanas, em 60 mil exemplares por semana, ao longo de 6 anos) de 720.000, reduzindo para 600.000 após as sobras supostas. E - digo-o sem ser com pretexto gabarola - ao mesmo tempo colaborar com textos para a Notícias Magazine e revista História. Logo, mesmo que sinta o desdenhar do meu trabalho, o ego permanece incólume, se bem que condicionado à minha maneira de ser.
Se em parte deste escrita fui palavroso e numa escrita pouco simples, foi para atingir o nível que o Pedro Moura justamente estabeleceu como seu patamar. Normalmente, costumo escrever com menos “iluminação”.
Caro Santos Costa
Acabo de aprender, por teu intermédio, que o meu blogue não permite mais do que 4906 caracteres.
Quer dizer que, à minha revelia, limitaram a minha liberdade de expressão, pelo menos na quantidade de vocábulos...
Quanto ao cerne da animada e construtiva controvérsia mantida entre o autor Santos Costa e o crítico e pedagogo Pedro Vieira Moura, estou a segui-la com interessada atenção.
Caro Moura
Ponto 1 - Agradeço-lhe ter vindo continuar esta troca de opiniões na caixa de comentários do meu blogue.
Digamos que, em certa medida, se aproveita e constrói, em segundo plano, um espaço mais liberto para a discussão construtiva e elucidativa, do que aquele, de maior visibilidade, localizado à superfície do écrã.
Ponto 2 - Aproveito para lhe dizer que tencionava ir colocar, na caixa de comentários do seu "Ler BD", a seguinte pergunta: sendo óbvio que leu/viu a obra "Pessoa & CIA.", pela forma pormenorizada como se lhe referiu, por que motivo não expendeu - no espaço mais público do seu blogue - a sua opinião crítica, devidamente apoiada e aprofundada em "elementos de argumentação", ao invés de simples "bocas" (citando a sua própria expressão.
Ponto 3 - A resposta à minha pergunta acima registada fica subentendida na frase que escreveu na resposta ao Santos Costa. Disse você:
"(...) tenho seguido um princípio que tento respeitar as mais das vezes que é o seguinte: se não gosto do livro, prefiro não falar sobre ele (...)"
Devo dizer-lhe que considero redutora (e cómoda), na sua função de crítico, essa posição.
Ela subentende que o Pedro Moura se demite da componente - árdua e ingrata, admito - de fazer análise desfavorável a qualquer obra de BD que lhe desagrade.
Ponto 4 - Respondendo agora à sua observação inicial,
"Já agora gostava de ler uma palavra de verdadeira apreciação deste livro (...)"
aproveito para lhe dizer o que não me ocorreu na minha resposta inicial ao seu comentário.
Ou seja: por um lado não teria cabimento, na simples divulgação duma exposição que ia ser realizada dois dias depois em Barcelona, infiltrar uma análise crítica à obra;
por outro lado, e como já decerto se apercebeu, optei deliberadamente por não exercer crítica de banda desenhada, um tanto por nunca ter sido a minha área de eleição, mas principalmente devido ao facto de não se justificar haver vários blogues a repetir os mesmos temas, no caso presente a criticar as mesmas obras (mas geralmente incidindo sobre obras unânimemente elogiadas).
Acresce que cedo me apercebi - e repito o que lhe disse na primeira resposta - do facto de haver na blogosfera um bom naipe de críticos, a aumentar gradualmente, e onde sobressaem:
Você, Pedro Moura ("Ler BD"), Pedro Cleto ("As Leituras do Pedro"), João Ramalho Santos ("As Sequências Rebeldes"), João Miguel Lameiras ("Por Um Punhado de Imagens"), Sara Figueiredo Costa ("Beco das Imagens"), Nuno Amado ("Leituras de BD"), Domingos Isabelinho ("The Crib Sheet"), André Azevedo ("BD no Sótão"), Gabriel Martins ("Alternative Prison"), Luiz Beira ("BDBD").
É verdade que, um tanto estranhamente, apesar da evidente inflação de bloguistas que fazem crítica de BD - uns com frequência, outros esporadicamente -, a obra "Pessoa & CIA", de Laura Perez Vernetti só teve (que eu tenha encontrado) uma crítica de Pedro Cleto - e, mesmo essa, desgarrada e sintética, comparativamente com as suas habituais profundas e aceradas críticas.
Caros Santos Costa e Geraldes Lino,
mais uma vez peço desculpa por responder em conjunto, mas tentarei sucintamente (o que me é tão difícil) responder às ideias deixadas aqui.
Em primeiro lugar, Lino, não se apague dessa forma. Penso que não será um exagero dizer que é graças ao Lino - à sua militância, simpatia, a forma como dá as boas-vindas a um círculo algo fechado a muitas pessoas - que muita malta mais jovem se encontra neste mundo. Não sendo autor, não me esqueço das primeiras vezes que fui ao Clube ali ao Rossio, ou o interesse que mostrava em guiar malta jovem nas primeiras visitas ao FIBDA, contando-me por isso como parte desse número. Houve outras "responsabilidades", como é natural, mas o Lino este na origem dessa minha "entrada". Além disso, em tantas conversas, o Lino tem uma capacidade crítica, mas compreendo a sua posição.
Em segundo lugar, tem razão quando diz porque não escrevo mais sobre este livro em particular, etc. A minha regra pode parecer "fraca" e até "cobarde", mas para aproveitar uma frase do Santos Costa - uma posição a qual não só respeito acima de tudo mas que espero compreendam que é também a minha, não devemos falar "bem" só para ficar de bem com terceiros, mas tampouco penso que deveremos construir um discurso onde adivinhamos que seremos demasiado negativos, ou porque não nos suscita uma discussão balizada, ou porque não nos toca o coração, etc., só para exercer um tipo de exercício pateta. É curioso como o que não faltam nestes circuitos, e para mais nos blogues, são leituras apressadas, meras apresentações ou resumos, muitas vezes sem qualquer argumentação (salvo excepções, de um punhado de pessoas que de facto elaboram a sua forma de pensar). Pela minha parte, imitando outros, tento elaborar as minhas ideias, deixá-las claras. Não procuro que seja consensual, tal como o Santos Costa demonstra na discussão havida no Lerbd: eu tenho a minha visão, que argumento, e o Santos Costa tem a sua, que argumenta. Não penso que eu tenha mais razão, mas defendo a minha posição; é tudo.
Por isso arrependo-me de ter feito algo que nunca fiz - apesar dos avisos à navegação na minha primeiríssima frase - que foi "mandar uma boca" sem argumentação. Pelos vistos, ao contrário dos encómios rasgados às colecções comerciais que saem em jornais e o total silêncio a todo um conjunto de produções nacionais mais alternativas que pululam pelos blogs, não me é permitido que "baixe a guarda" de quando em vez. as minhas desculpas. Seja como for, não elaborarei um texto sobre o livro. Ao contrário do que se costuma dizer, os gostos discutem-se sim, graças à nossa educação, mormente artística, às discussões e diálogos em que vamos aprendendo mais e mais, mas se esse argumento for suficiente, por agora, então fico-me por um "não gosto".
Finalmente, caro Santos Costa, obrigado por recordar essa discussão, e por se "identificar". De facto, o anonimato é muitas vezes forma de poder entrar no insulto, mas não foi nunca o seu caso, e bem pelo contrário, instigou uma discussão e obriga-me a ser mais cuidado na linguagem, o que agradeço, esperando que alguma vez possamos falar ao vivo e a cores.
Quanto ao outro assunto que arrola para esta discussão, sobre o silêncio sobre a sua obra pessoal, não me cabe a mim fazer comentários, nem compreendo bem a pertinência de o associar à discussão presente. Se o ofendi pela referência generalista aos títulos da Asa, queira aceitas as minhas desculpas.
Um bem-haja a ambos,
Pedro Moura
Caro Geraldes,
Tenho andado (bastante) afastado do que se produz na nona arte em Portugal (e até no estrangeiro), logo não posso opinar (e não criticar) esta obra. Mas posso "pensar" que a autora "aproveitou" a imagem de Pessoa para vender mais uns livrecos...
Quanto a outras questões aqui verificadas e comentários, continuo a frisar aquilo que penso:
Temos excelentes dinamizadores da BD em Portugal (e já o disse várias vezes), casos do Geraldes, João Lameiras, André Azevedo, João Ramalho Santos, Domingos Isabelinho e Pedro Moura. (tudo excelentes pessoas que dominam vários campos da nona arte).
Quanto á questão do Pedro gostar ou simplesmente opinar em poucas palavras acerca duma obra de uma forma destrutiva não as vejo como algo negativo, aliás muitos dos meus gostos no que concerne á BD e mesmo outras artes são bastante similares aos do Pedro.
Não sou critico e nem pretendo ser, considero-me somente um "opinion maker" (com tantos blogues e tanta parafernália informática penso que (talvez) não haja espaço a critica e no que concerne a nona arte mais ainda dado termos um mercado tão pequeno).
Tudo isto só para me "meter" ao barulho consigo, com o Pedro e com o Santos Costa..:)
Tudo pessoas que simpatizo bastante e que conheci pessoalmente (tirando o caso do Santos Costa)..
Observando as coisas da minha perspectiva pessoal e respondendo quer ao Pedro e ao Santos Costa, por vezes uma mera banda desenhada pode ser inúmeras palavras com meia dúzia de rabiscos (e conheço muita BD muito boa com este método) e pode também ser ilustração sequencial (sem estar limitada aos quadradinhos que penso que por vezes nos fazem deturpar o que é BD e o que não é BD)...
A nona arte é uma arte onde praticamente "vale tudo" para contar uma história e todas as histórias são dignas de ser contadas (com maior ou menor engenho)...
Para dar o caso da editora Fremok, eles decidiram apostar na imagem em detrimento das palavras (conforme me confidenciaram Olivier Deprez e Dominique Goblet aquando do Mab) assim como a editora Image (num lado mais "mainstream" que não me agrada) também decidiu utilizar mais a imagem e menos as palavras..
Todas as formas são válidas e todos nós que gostamos desta arte (com as nossas opiniões) poderemos dar uma visão diferente desta ao grande público (para o qual isto é conversa de duas cervejas e um pires de tremoços:))..
O Santos Costa com a sua obra lembrou-se de compilar as suas "estórias" em homenagem ao mestre Salgari e com algumas semelhanças (a nível de traço) com a série de Pratt "Escorpiões do Deserto".. Logo e estando todos no mesmo "barco" de pessoas que gostamos da nona arte, continuo a achar fundamental uma união "positiva" de todos os elementos que fazem algo por dinamizar esta arte (sendo a mesma nuns casos popular e impopular noutros), mas não acontece o mesmo em todas as outras artes? Esta é a pergunta que vos deixo..
Geraldes, ficas a dever-me dois bagaços e um copito de vinho (ainda não me esqueci:)).
Quanto ao Pedro e ao Santos Costa se nos encontrarmos todos em Beja ou noutro sitio qualquer, talvez lhes peça um cigarro ou simplesmente dois dedos de conversa..:)
Abraço para todos
Manuel
Caro Geraldes Lino,
Confesso que ao ver a razão do texto Exposições BD avulsas (XXXI) - Fernando Pessoa na BD... e não só (XIX), não dei a devida atenção aos comentário que se sucederam. O meu bom amigo Manuel Espírito Santo (Bacchus) chamou-me hoje a atenção para esse facto, porque sabe que é um assunto que me interessa – a velha e bafienta questão do que é Arte e sua critica e legitimação - e cá vim ler o que se comentou.
Primeiro
Compreendo perfeitamente a sua posição, caro Geraldes, em não querer “meter-se” na crítica. Mas divulga, cria discussão, promove encontros e diversos eventos, PUBLICA (assim mesmo em caixa alta) autores de BD, e um extenso etc. E tudo isto já é muito! Como o Pedro Moura referiu, e como sabe, eu sou um dos que cresceu a ler as suas palavras. Obrigado!
Segundo
Caro Santos Costa,
Em minha casa, numa das estantes da minha sala tenho o seu Piratas do Deserto, ao lado do New York do Will Eisner e da antologia World War 3 nº 40. Três edições que tematicamente em nada se assemelham mas que convivem perfeitamente naquela estante, cada uma com as suas dádivas, todas BD. E se umas mais narrativas e outras mais subjectivas, tanto melhor.
Como sabe, sou um apreciador da BD de aventuras, essa que tanta falta faz no nosso mercado. Encontra-se Tex, e o resto só nos alfarrabistas. Mas isso não me impede de gostar de ler as edições, por exemplo, da Associação Chili Com Carne.
Na blogosfera é igual, gosto dos textos do Geraldes, do Pedro Moura e dos seus no Bandarra Bandurra ou nos elucidativos comentários que faz sempre que algo o inquiete. Há espaço para toda a BD e para todo o tipo de abordagem, onde umas complementam as outras.
Caro Pedro Moura,
A forma como aborda uma determinada publicação leva o leitor a descobrir novas associações e outros caminhos de entendimento.
De facto quando li a sua “boca” a primeira coisa que pensei foi que esta estava algo deslocada do que é a postura que lhe conheço. Mas acho que deve sentir-se à vontade para o fazer mais vezes. Porque não? Como vê originou esta conversa.
No meu blog tenho a mesma posição que o Pedro: regra geral se não gosto ou não me suscita interesse determinada obra (tendo conhecimento da mesma e tendo tempo pois não consigo obviamente divulgar/comentar tudo o que é publicado) então não escrevo sobre ela. Como o blog é meu, é um direito que me assiste.
Do seu blog só lhe faço um reparo: se estiver para isso separe os parágrafos com espaços. Um bom texto deve ser, sempre que possível, acompanhado de uma boa legibilidade. Aqui o aspecto visual, não sendo o essencial, também é importante.
para terminar faço minhas as palavra do Bacchus: "A nona arte é uma arte onde praticamente "vale tudo" para contar uma história e todas as histórias são dignas de ser contadas (com maior ou menor engenho)..."
Numa altura em que andava a colher elementos para um trabalho etnográfico, encontrei um moleiro todo enfarinhado no moinho, à beira do rio Távora. Antes de começar o diálogo - que seria aberto e sucessivamente continuado com as minhas perguntas - o moleiro perguntou-me se queria beber um copo. Eu disse-lhe que sim; mas, como andava a tomar uns comprimidos, pedi-lhe que me oferecesse água.
O moleiro, franzindo o cenho e cofiando a barba de semana, objetou - "Meu amigo, beba-lhe vinho e deixe a água para o moinho".
E bebi, por um púcaro da resina, um vinhito que não era nada mau.
Serve este intróito para, em concordância com o Bacchus e o André, dizer que a questão colocada pelo primeiro é pertinente e tem a resposta aí contida, se retirarmos a interrogação- "Logo e estando todos no mesmo "barco" de pessoas que gostamos da nona arte, continuo a achar fundamental uma união "positiva" de todos os elementos que fazem algo por dinamizar esta arte". E, tal como o moleiro, Bacchus sugere que, num encontro ocasional que se proporcione, fumemos um cigarro ou tratemos de gastar dois dedos de conversa. Como não fumo,mas bebo, prefiro a troca. E os dedos de conversa estão garantidos.
O texto do Geraldes Lino sobre a obra e exposição da Vernetti suscita alguma perplexidade, não por si ou pela obra, mas pela entrada de Pedro Moura a zupar nas formas visuais que ali (não) apreciou. Eu meti a colherada, o Lino meteu a dele (pois o caldeirão e a cozinha são seus), julgo que se estabeleceu uma troca de ideias que não deixam de ser produtivas, tanto mais que surgiram - como não podia deixar de ser - dentro da urbanidade que caracteriza os intervenientes.
Ficou no ar a perspectiva de se saber onde começa e acaba a BD e, segundo penso, não se chega a consenso por ser uma arte universal, milenar e ultradimensional, sem barreiras e sem escolas.
É certo que eu aperto mais o conceito no sentido de expurgar da designação o que não tiver uma leitura sequêncial, ainda que só desenhada (se for só escrita, nem se põe a dúvida)ou desenhada e escrita. O cinema por ser "mudo" não deixa de ser cinema.
O que eu temo - e digo-o como diletante - é que a BD possa vir a ser espartilhada nesta forma de desenhar sem contar uma estória/história e que, das propostas que se colocam à venda e que Pedro Moura dá atenção (como o seu último post - Citizens of no place), mesmo que dita como uma novela gráfica arquitectural, acabe por desvalorizar a nona arte.
Tem lá enquadramentos? Tem. Tem lá argumento, mesmo subjectivo? Não. Logo, não há sequência (banda) e o leitor, por muito que se esforce para ele próprio construir o enredo, faz a "leitura" do princípio ao fim como se a fizesse do fim para o princípio.
A piada toda é que, se Picasse cortasse os seus quadros em rectângulos pequenos e de cada um fizesse uma vinheta, estaria a fazer uma banda desenhada?
Enfim, lá vai outro relambório para a limitada caixa do blogger. No entanto, com estas contribuições - e salvo o primeiro comentário que não passa duma linha - a pouco e pouco sai daqui um compêndio.
Santos Costa,
Um dia andava eu a passear pela baixa do Porto e falei com uma andorinha que me perguntou o meu nome:
Eu confidenciei-lhe o mesmo e disse para ela me levar para terras remotas (onde a chuva não é oblíqua e o sol é mais radioso)..
A andorinha deu-me alguns sonhos e avisou-me que alguns poderiam se tornar em pesadelos, mas sendo eu um gajo sem medo de pesadelos, não segui os conselhos da mesma e pedi-lhe um copo com água e uns cigarros para acompanhar o mesmo (Ao que ela me respondeu como "impossivel" de me providenciar), mas sendo eu um gajo de fábulas esperei e a andorinha trouxe-me o que eu lhe pedi:)
Logo como pode constatar pelo que escrevo, acredito muitas vezes no impossivel (desejando que o mesmo se torne possivel). Tudo isto para aceder aos possiveis dedos de conversa numa qualquer ocasião que seja propicia ao nosso encontro... (eu acredito que o destino de uma pessoa pode ser feito segundo a sua vontade, basta a mesma acreditar no mesmo.)
Sendo a BD uma arte tão complexa (primordial e ancestral), por vezes não sabemos onde ela começa e acaba (e aqui concordo com quase toda a gente)..
A BD enquanto arte transformou-se ao longo dos seus anos de vida (desde o Yellow Kid com ilustrações e muito texto até á BD mais contemporânea)..
Para esta mudança acontecer, os próprios artistas proporcionaram uma forma diferente de ler BD, como os casos do ENORME Will Eisner com a introdução ao conceito de novela gráfica, passando pela (des)formatação da mesma por Scott Mccloud e continuando em planos arrojados de mistura de artes como os casos mais recentes de artistas como: Dave Mckean, Alan Moore, Mattotti, Art Spiegelman, Robert Crumb, Melinda Gebbie entre muitos outros.
Continuando na onda da nona arte, é curioso notar-se a ligação exaustiva da mesma com a sétima arte desde os primórdios das mesmas, desde Winsor Mckay até Bilal, Satrapi, Mckean entre tantos outros.
Tudo isto para continuar a afirmar a minha posição, sendo a BD uma arte deve "entranhar" todas as outras artes e não "estranhar"...
Considero os fanzines como um modo experimental de fazer BD (assim como as curtas metragens no cinema).. e são fundamentais nesta comunicação sequencial que é a BD.
Absorvo toda a linguagem patente nesta arte estática (apesar de preferir a animação devido a serem bonecos (não) estáticos.)
O Picasso fez BD (arte sequencial) e muitos outros pintores também o fizeram no cinema também quando notamos que os storyboards são arte sequencial para dar origem a algo animado/filmado e com movimento.
A união da nona arte em Portugal e no Estrangeiro é um pouco complicada de ser efectuada, porque existem sempre as pessoas que acham que quem gosta de arte sequencial sofre do síndrome de Peter Pan e de uma adolescência continuada:)
Têm que ser as pessoas que gostam, criam e divulgam BD a mostrar que apesar de "patologicamente" sermos meio-adoentados para a sociedade, que esta mesma arte deve ser desfrutada e acompanhada, pois faz parte do imaginário de cada um de nós, onde sonhos, pesadelos, fábulas, crenças e arte se misturam em algo tão estático como esta arte sequencial:)
Grande Abraço
Caríssimo Bacchus
Eu sou, de facto e de direito, um amante da Banda Desenhada: desenho segundo a arte que a Natureza me deu; publico segundo a vontade de outrem ou o arrojo próprio; colecciono "às cegas" pelo folhear rápido, dando conta da ilustração no miolo dos livros; divulgo, quando posso e como posso, a banda desenhada como arte.
Mais ainda. Considero que a banda desenhada começou nas cavernas de Lascaux e de Altamira, em sequências levadas às paredes com cenas de caça e do quotidiano; que o desenho proporcionou a leitura de textos, como os hieróglifos do Egipto; que a Banda Desenhada, tal como foi assim exposta, não só precedeu a escrita como é a "fonte" da escrita.
Logo, tudo o que se "entranhe" na BD, como tal implicando o desenho (mesmo uma sequência de borrões), seja bem-vinda.
O que eu temo - pela arte em si e pela forma como os ocidentais e os orientais a expõem (com leituras diferentes da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda)- é que estas "experiências" entranhadas possam relegar para segundo plano a BD em "estado puro", à semelhança do que aconteceu com os eucaliptos na floresta autóctone portuguesa.
Tenho dito e repito: a BD precedeu o cinema e, quando neste se enquandram, os planos médio, grande plano, plano americado, picado e contra-picado, já havia vinhetas com estes pormenores.
Quanto a encontrarmo-nos, pode ser num dos próximos MAB. O Porto é, para mim, a segunda cidade e aquela onde estudou o meu filho e onde exerce a profissão de engenharia informática de redes e multimédia. É na Biblioteca do Jardim de S. Lázaro que colho muitos eleemntos nas minhas pesquisas bibliográficas e é de lá que recebo microfilmes ou gravações em CD de textos e gravuras antigos para as monografias que publico. É para aí que costumo viajar com alguma frequência. E foi aí, na Casa da Beira Alta (Rua de Santa Catarina) que proferi uma das minhas melhores intervenções como conferencista (estava lá o Alberto João Jardim) e foi nos estúdios do Monte da Virgem (RTP) onde passei os meus grandes momentos de televisão nos programas do Goucha e do Jorge Gabriel.
Viva o Porto!
Santos Costa,
Não duvido do seu entusiasmo e "empolgamento" no que concerne esta arte, assim como de muitos outros autores...
Sim e como sequência narrativa a BD nasceu nos primórdios da civilização como uma forma de comunicação/ilusão/sonho/crença/fábula/sensação.
E também partilho da opinião que a BD precedeu o cinema, mas o problema e comparação com o cinema é que este foi sempre uma arte de massas (talvez por não ser estática e envolver pouco (na maior parte dos casos) pensamento ou desenvolvimento de ideia por parte do público), enquanto a leitura de BD, literatura ou outra arte estática exige outra forma de ser entendida..
Como é óbvio adoro cinema e música e quase todas as variantes destas artes, mas são mais de reacção por parte do público (provoca sensações/emoções/reacções sem o mesmo precisar de se embrenhar a fundo nas mesmas)..
Porque é que a literatura ou a pintura vingaram apesar de serem artes estáticas e a BD não?
Talvez por serem um aglomerado de bonecos a falarem uns com os outros segundo a percepção do grande público (e é isto que é passado para o mesmo através dos ícones da BD)..
O próximo Mab não sei se será para 2014... (ando cansado destas "lides" da BD)..
O jardim de S. Lázaro é mitico e com uma riqueza histórica incalculável..
A biblioteca do Porto é um manancial de informação incrivel..
Eu tenho orgulho da minha cidade e não conheço outra igual no mundo inteiro... (um sentimento que não é bairrista, mas considero a minha cidade como um bom vicio:))
Se eu soubesse dessa intervenção teria-a visto de certeza:)
Quanto aos programas do Goucha e do Jorge Gabriel no monte da virgem também não os visualizei...
Mas num encontro fortuito, espero ouvir falar dos mesmos em directo e sem ser para a televisão:)
O Geraldes vai-nos matar por "utilizarmos" a casa dele numa de debate/troca de ideias/justaposição de palavras e pensamentos:)
Mas nada que não possa ser resolvido com um sorriso ou abraço ao mesmo.
Se precisar do meu email, quase toda a blogosfera o tem e quando aparecer pelo Porto... Já sabe que no minimo umas breves palavras podem ser trocadas:)
E o Porto é sem dúbida uma naçom:)
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